3I/Atlas: objeto interestelar desperta curiosidade – 11/11/2025 – Ciência

3I/Atlas: objeto interestelar desperta curiosidade – 11/11/2025 – Ciência



Recentemente, Kim Kardashian questionou Sean Duffy, administrador interino da Nasa, na rede social X: “Qual é a fofoca sobre o 3I/Atlas?!?!!!!!!!?????”.

Duffy, ele próprio um ex-astro de reality show, respondeu como um professor de ciências do ensino médio. “Ótima pergunta!”, afirmou ele, explicando que “3I” o rotulava como o terceiro objeto conhecido a ter vindo de fora do nosso Sistema Solar.

O administrador da agência espacial a tranquilizou e disse que, independentemente do que ela pudesse ter ouvido acerca das possíveis origens do cometa, não havia motivo para alarme.

“Sem alienígenas. Sem ameaça à vida aqui na Terra”, afirmou ele.

O aglomerado de rocha, poeira e gelo se tornou o tema da conversa de muitas pessoas.

Kardashian perguntou sobre o cometa. Joe Rogan também o fez em seu podcast. E um grande número de pessoas consultou o Google sobre as defesas planetárias da Nasa.

Andrew Siemion é o investigador principal do Breakthrough Listen, que utiliza radiotelescópios para buscar comunicações extraterrestres. Ele contou que recentemente estava em um aeroporto quando alguém que ouviu sua conversa segurou seu ombro e lhe perguntou: “Vocês estão falando sobre o 3I/Atlas?”.

Parte da notoriedade desse cometa pode ser creditada ao astrofísico Avi Loeb, de Harvard. Ele é bem conceituado por suas pesquisas sobre buracos negros, matéria escura e outros temas científicos. Mas, nos últimos anos, também tem feito especulações sobre alienígenas.

Desde julho, quando o 3I/Atlas foi detectado, Loeb apareceu em diversos programas de notícias nos EUA. Ele discutiu o assunto por algumas horas com Rogan e produziu uma série de ensaios questionando se o cometa poderia ser um cavalo de Troia enviado por alienígenas para espionar a Terra, ou pior.

“O 3I/Atlas está vestindo um disfarce de cometa”, escreveu Loeb recentemente, “ou é realmente uma rocha gelada de origem natural?”

Ele observou que em 19 de dezembro, seis dias antes do Natal, o cometa fará sua passagem mais próxima da Terra, a uma distância aproximada de 270 milhões de quilômetros. “O 3I/Atlas enviará minissondas em direção à Terra como presentes de Natal para a humanidade?”, questionou.

Loeb estima entre 30% e 40% as chances de uma origem artificial para o 3I/Atlas. Seu argumento baseia-se em coincidências aparentemente improváveis e características incomuns observadas no cometa.

Essa interpretação contrasta, e muito, com a de outros cientistas, que afirmam não ver sinais de nada não natural.

“Todo o assunto está contaminado por essa afirmação de que poderia ser uma nave espacial”, disse David Jewitt, astrônomo da UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). “Então, acho que na mente das pessoas, sim, é uma nave espacial.”

E, acrescentou ele, quando especialistas dizem que não é, muitas pessoas pensam que “eles estão acobertando algo.”

Tudo o que foi observado tanto por telescópios em terra quanto no espaço “se encaixa no que vemos em outros cometas”, afirmou Jewitt. “Mas Avi sistematicamente pegou essas coisas e as interpretou de uma maneira diferente, para minha decepção.”

Loeb insiste que está aberto a mudar de opinião conforme mais observações forem feitas, mas que a existência de uma potencial ameaça deve ser levada a sério. “O que estou dizendo é que devemos considerar essa possibilidade.”

Um grande público compartilha a disposição do astrofísico em considerar essa possibilidade, que combina uma questão filosófica —”Estamos sozinhos no universo?”— com teorias da conspiração de que especialistas e o governo estão escondendo, ou ignorando, a verdade.

Especialistas em comunicação científica como Dan Fagin, diretor do programa de Reportagem Científica, de Saúde e Ambiental da Universidade de Nova York, dizem que não é necessariamente ruim que cientistas abordem tópicos —como alienígenas— que compreensivelmente fascinam muitas pessoas.

“É importante despertar a curiosidade científica, inclusive em pessoas como Kim Kardashian”, disse Fagin.

Mas, ele acrescentou, “é igualmente importante, e possivelmente ainda mais importante, falar sobre a probabilidade de algo acontecer e sobre a probabilidade além da possibilidade”.

Loeb admite que “30 a 40%” é uma impressão, não uma conclusão científica baseada em dados estatísticos. “Não foi baseado em um cálculo, porque é impossível fazer um cálculo sobre isso.”

Em grande parte, o 3I/Atlas se parece e se comporta como um cometa, composto dos mesmos materiais que os cometas comuns do Sistema Solar —água, poeira, dióxido de carbono e monóxido de carbono.

Observações do Telescópio Espacial Hubble indicam que ele tem no máximo 5,6 quilômetros de diâmetro, e Jewitt disse que poderia ser consideravelmente menor, talvez com cerca de 1 quilômetro.

O cometa possui propriedades incomuns. Quando foi descoberto, a mais de 600 milhões de quilômetros do Sol, o 3I/Atlas estava cercado por uma nuvem de poeira e gás. Isso difere do estado típico escuro e inerte da maioria dos cometas a essa distância.

Parte de sua composição química é atípica. Ele possui muito mais dióxido de carbono do que a maioria dos cometas do Sistema Solar, além de altos níveis de níquel.

Quando o 3I/Atlas fez sua aproximação mais próxima do Sol no mês passado, ele ficou mais brilhante, e sua cor mudou, adicionando tons azul-esverdeados. Sua trajetória também não é exatamente o que se esperaria de algo puxado apenas pela gravidade do Sol.

Assim que o 3I/Atlas foi descoberto, Loeb começou a especular sobre essas peculiaridades.

A força não gravitacional que empurra o cometa e o tom azul-esverdeado poderiam ser o disparo de um motor de foguete, ele sugeriu. (Jatos de gás saindo da superfície poderiam fornecer um efeito propulsor semelhante, e a mudança de cor, que já foi observada em outros cometas, poderia ser simplesmente o brilho de moléculas escapando do cometa.)

Loeb também destacou como o 3I/Atlas está viajando quase no mesmo plano das órbitas dos planetas do nosso Sistema Solar.

O Sistema Solar está inclinado em um ângulo de 60 graus em relação ao disco da Via Láctea, e assim o movimento do cometa no mesmo plano dos planetas poderia ser outro indicador de que a trajetória é intencional, não aleatória, segundo o astrofísico.

Mas outros cientistas dizem que o que Loeb vê como design intencional é provavelmente apenas uma coincidência. Também afirmam que um objeto que se formou ao redor de uma estrela diferente e viajou através da Via Láctea deveria, naturalmente, parecer diferente.

“Ele veio de fora do nosso Sistema Solar, pelo amor de Deus,” disse Siemion.

Nas próximas semanas, os telescópios James Webb e Hubble farão mais observações do cometa.

Kardashian não comentou publicamente se Duffy, o líder da agência que ela diz ter falsificado os pousos na Lua, a convenceu de que 3I/Atlas não é uma nave espacial alienígena invasora. Mas Loeb a convidou para se juntar a sua equipe de pesquisa.



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